Até a Catarina...
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Foto @ manuel tavares |
Um magote de empregadas conversam acaladoramente... Eu espero ao balcão tipo Buda... Depois de
várias idades do gelo e degelo, uma empregada finalmente repara em mim:
- Catarina já atendeste este menino?
Os meus 41 anos agradecem... Rio-me por dentro, já que a
rapariga certamente nem 25 terá...
- Acho que ele já está atendido... Não está?
Aceno negativamente com a cabeça e sem perder mais tempo
dos meus lábios saem automáticas as mágicas palavras:
- Um café cheio por favor.
Há no rosto da Catarina uma certa má vontade, quase
raiva, num ápice aterra à minha frente o café mais cheio da minha vida (parecia
o prodígio de uma meia de leite num copo de café).
Entretanto, estando eu junto à máquina registadora, vou
assistindo a vários pagamentos. Uma senhora já de idade pergunta à Catarina
repetidas vezes quanto é, numa voz débil com evidentes traços de senilidade.
Catarina mostra-se cada vez mais irritada, não fazendo qualquer esforço para o
esconder... Eu viajo e penso como temos tendência a ser impacientes com os
fracos...
Acabo o café gigante um pouco irritado, mas num repente
de calma quando me preparava para sair sem nada dizer, resolvo dar uma nova
oportunidade à Catarina:
- Boa tarde!
Esta olha... quase incomodada com a simpatia do gesto, e
solta algo do género:
- Ffoa ffarde...
Quase sou atingido por um projéctil de origem orgânica,
ou seja, parte de um lanchinho rápido da "minha querida Catarina".
Espantado vejo reluzir no seu olhar primeiro uma certa surpresa divertida,
seguidamente uma mesquinha e perversa alegria...
Culpo-me primeiro por ser tão crédulo, no entanto de
imediato algo dentro de mim sussurra que todos merecemos uma segunda
oportunidade... Até a Catarina.
© Manuel Tavares
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